Fantasmas da Willington Mill House
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Neste artigo você conhecerá o pensamento de estudiosos do assunto, parapsicólogos, pesquisadores, espíritas, e de pessoas que estiveram no centro de acontecimentos paranormais.
Pessoalmente, acho que quando uma pessoa é muito a pegada à matéria, a bens materiais e a outras pessoas (por amor ou por ódio), quando morre pode ter dificuldade de libertar-se completamente. Quando alguém desencarna, a matéria sempre ficará por aqui e volta à sua origem que é a terra. Contudo a energia que cada um recebeu do cosmo ao nascer se liberta e se propaga no ambiente. Mas para que isso aconteça é preciso não estar apegado a bens materiais, ou ressentimentos não superados.
Simpatizo com a teoria de que existem várias dimensões no universo. Quando alguém desencarna, provavelmente seguirá para outra dimensão, mas se não conseguir passar para lá, provavelmente ficará entre mundos e será um potencial fantasma.
"Nada se perde, tudo se transforma".
As assombrações, ou fantasmas, são tradicionalmente consideradas como espíritos dos mortos, embora os céticos há muito duvidem. Um dos personagens de Shakespeare desprezou tranquilamente um fantasma, como "apenas imaginação". Já Charles Dickens refletia uma opinião vitoriana quando seu Ebenezer Scrooge atribuía a um fantasma um desarranjo intestinal, acusando-o de ser "um pedaço indigesto de carne".
Porém nos últimos cem anos os estudiosos da paranormalidade vem buscando diligentemente outras explicações, embora nenhuma de suas teorias tenham satisfeito os céticos. No entanto, embora as explicações propostas não tenham sido provadas, alguns dão uma certa impressão de verossimilhança.
Os espíritas acreditam que a alma deixa o corpo que morre. Mas às vezes esse espírito pode demorar-se em ir para o"Outro Lado" e ser visto como um fantasma. O pesquisador italiano Ernesto Bozzano deu um novo enfoque, com sua teoria "espírita"; ele sugere que as aparições não são as almas dos mortos, mas mensagens telepáticas das mentes sem corpo, com várias das características atribuídas aos espíritos.
A alma deixando o corpo.
Uke Somer, atriz alemã de 23 anos, estava ascendendo rapidamente ao estrelato em Hollywood quando comprou com seu marido, o jornalista Joe Hyams, uma casa em Beverly Hills, na Califórnia, em 1964. Poucos dias após a mudança começaram a ter experiências perturbadoras - na verdade, fantasmagóricas. Tal como salientou Hyams mais tarde, em um artigo escrito para uma revista de circulação nacional, nem ele nem a esposa partilhavam da tendência ao sobrenatural existente no sul da Califórnia; ele era um jornalista , com quinze anos de experiência, e Elke era uma atriz esforçada e una mulher prática, "que certa vez matou uma cascavel no quintal, com as tesouras de grama". Apesar disso, o que aconteceu naquela casa ao longo de dois anos acabou convencendo os dois equilibrados profissionais de que os fantasmas existem.
Segundo Hyams, as ocorrências estranhas começaram no dia 6 de julho de 1964, quando Elke recebeu a visita de uma jornalista alemã, Edith Dahlfed. Quando Elke começou a servir café, a jornalista perguntou-lhe se não ia apresentá-la ao homem.
"A qual homem?" quis saber Elke, intrigada, pois sabia muito bem que seu marido não estava em casa naquele momento.
"Aqueele, que estava em pé ali na entrada e acabou de passar para a sala de jantar", explicou Edith.
" Deve ser o Joe", disse Elke, e foi procurá-lo. Não havia mais ninguém na casa, mas a jornalista garantiu ter visto um homem forte de calças escuras, camisa branca e gravata negra. Tinha um nariz grande "de batata" -definitivamente, não era Joe Hyms. Naquela noite, a atiz e o marido tentaram achar uma explicação para o que acontecera e acabaram concluindo que fora "uma dessas coisas inexplicáveis que a gente dá de ombros e esquece".
No entanto, duas semanas depois, a mãe de Klke Sommer - que estava passando uns dias com o casal - contou ter acordado em seu quarto, no andar térreo, e visto um homem ao pé da cama, olhando para ela. Antes que ela conseguisse gritar, o homem sumiu. De manhã, Joe convenceu-a de que, sonolenta, ela poderia ter confundido um ladrão na janela com um homem no quarto. Ele foi examinar o solo sob a janela, mas não achou marcas, apesar de o térreo estar amolecido pela chuva da noite anterior.
Mais ou menos nessa mesma época, segundo o relato de Joe Hyams, começaram a repetir-se ruídos estranhos quase todas as noites. Ouvia-se o barulho de cadeiras da sala de jantar sendo empurradas, como se um grupo houvesse acabado de comer e estivesse deixando a mesa. Mais tarde, naquele mesmo ano, quando Elke estava filmando na Iugoslávia, Joe continuou ouvindo os ruídos noturnos na sala de jantar, e às vezes encontrava abertas as janelas que trancara à noite.
Ele decidiu espionar sua própria casa. Comprou três mini transmissores de uma firma especializada em detecção eletrônica, e instalou três rádios FM ligados a gravadores para captar e gravar os sinais dos transmissores. Escondeu um desses transmissores,com seu sensível microfone, na entrada de carros para registrar a chegada de qualquer intruso; colocou outro perto da porta da frente e o terceirona sala de jantar. Arrumou depois as cadeiras da sala de jantar com o maior cuidado e marcou o lugar dos pés delas no chão, com giz.
Naquela noite ouviu de seu quarto, no andar de cima, os já familiares ruídos de cadeiras sendo arrastadas na sala de jantar. Tirou seu revolver calibre 38 da mesa de cabeceira e desceu em silêncio pelas escadas e pelo corredor, até a porta aberta da sala de jantar. Apontando o revolver para dentro da sala com a mão direita, usou a esquerda para acender as luzes. A sala estava vazia e em silêncio. Os pés de todas as cadeiras repousavam tranquilos em seus respectivos lugares, dentro dos círculos de giz. Joe Hyams voltou para o quarto. Mais tarde, ao ouvir as gravações, ele não chegou a detectar ruídos incomuns nos transmissores colocados na porta da casa e na entrada de carros. A fita da sala de jantar, porém, contava uma história diferente. Hyams relata que ela gravara com nitidez os ruídos dos móveis sendo deslocados, que paravam de repente como estalo do interruptor de luzes, e sua própria tosse nervosa quando estava olhando para a sala - e então, depois que ele se foi, o barulho das cadeiras recomeçando a arrastar-se.
Por mais de um ano, depois disso, houve hóspedes na casa - alguns, aterrorizados, partiram imediatamente - que relataram ter vislumbrado o homem robusto de camisa branca e gravata negra. Hyams e um arquiteto, munidos da planta da casa, inspecionaram minuciosamente cada recanto da construção; e uma equipe de detectores de cupins arrastou-se por baixo, por cima e por todas as partes da estrutura, para ver se havia alguma reentrância ou qualquer outro espaço que um inquilino indesejável, um clandestino residencial, pudesse ocupar em segredo, ou uma entrada secreta que um intruso pudesse usar. Não havia nenhuma coisa, nem outra. Além disso, s geólogos e empreiteiros de obras que ele consultou garantiram-lhe que o terreno sobre o qual estava construída a casa não estava em movimento.
Hyams ficou pensando se aquela sensação não resultaria de "nervos muito excitados, reforçados por alguma coincidências".
Mas embora ele e a esposa relutassem em admitir hipótese de um fantasma, mudaram completamente a decoração da sal, ao saberem que os fantasmas preferem ambientes conhecidos. Os ruídos continuaram. E os cães do casal começaram a comportar-se de modo estranho, latindo e olhando para a sala de jantar vazia, por exemplo.
Hyams pediu ajuda à filial de Los Angeles da Sociedade Americana de Pesquisas Psíquicas. (ASPR, sigla em inglês). Nos meses que se seguiram, contou, uma série de médiuns "sérios e, talvez algumas com poucas exceções, honestos", visitou a casa, trazidos pelos pesquisadores da ASPR, juntamente com cientistas interessados da Universidade da Califórnia. Houve algumas semelhanças notáveis nas conclusões d vários desses sensitivos, que nada sabiam das experiências dos Hyams, nem a quem pertencia a casa.
Um deles descobriu que o fantasma era um homem pesado, "um europeu que levou sua vida pregressa dedicando-se ao próximo". Dois outros referiram-se evidentemente ao mesmo homem grande, dizendo que tinha cerca de 58 anos de idade e morrera de uma doença cardíaca; um médium acrescentou que se tratava de um médico que morrera antes de terminar uma tarefa "ou um o homem da casa" - isto é, Joe Hyams. De fato, alguns anos antes ele estivera trabalhando em um livro com um médico daquela idade, que morrera de ataque cardíaco. Algumas das descobertas, porém, variavam nitidamente. Um dos sensitivos vislumbrou um homem grande e desarrumado, que ele classificou como um "monstro", cheio de ódio e "totalmente bêbado". Outro ainda mencionou uma jovem loira que morrera de problemas pulmonares cuja casa fora depois queimada. Elke tinha de fato uma amiga que morrera pouco tempo antes e cuja casa fora destruída depois por um incêndio.
A essa altura, Elke Sommer estava aterrorizada, Hyams descobriu que dois donos anteriores tinham vendido a casa após morarem nela por pouco tempo -por temerem que casa estivesse mal-assombrada. Hyams acabou conseguindo que uma das médiuns envidas pela ASPR, a senhora Lotte von Strahl, viesse para "assentar" o fantasma - ou seja, livrar a casa de sua presença.
O exorcismo foi breve e metódico. Sentada à cabeceira da mesa da sala de jantar, von Strahl declarou que o "monstro horrível e brutal" estava parado ao lado dela. Pediu a Elke que se juntasse a ela em uma curta oração silenciosa e depois dirigiu-se diretamente ao fantasma: "Em nome de Jesus Cristo, ordeno-te que saias desta casa imediatamente. Deixa em paz estas boas pessoas e pare de perturbar a casa delas. "Depois de mais algumas palavra, seguidas por um momento de silêncio, ela declarou, triunfante: "Ele está indo".
Naquela noite, Hyams e a esposa trancaram as portas e janelas e foram para a cama. Joe estava começando a dormir quando Elke ouviu alguma coisa. "Escute", pediu. Era o ruído de cadeiras arrastando-se na sala de jantar.
No relato que publicou sobre esses dois anos de noites aflitivas com aparições e ruídos, Hyams escreveu: "Até mesmo eu estou relutantemente convencido de que temos pelo menos um fantasma na casa, mas não pretendemos mudar-nos." Sommer sentia que era provável que o fantasma fosse do pai dela,e portanto inofensivo. Hyams prosseguiu: "Eu não deixaria que um homem vivo me fizesse sair de casa assustado, e certamente não pretendo deixar que um morto faça isso."
Cerca de um ano depois ele foi forçado a abandonar essa posição de desafio. Segundo Hyams, ele e a esposa foram acordados cedo na manhã do dia 13 de março de1967, por fortes pancadas na porta do quarto. Joe ouviu o que pensou serem risadas vindo do andar de baixo, quando pegou sua pistola e abriu a porta. Fora do quarto não havia ninguém, mas ele viu fumaça subindo do andar térreo, pelo vão da escada. Fugindo apressadamente por uma janela do quarto e por um telhado que se inclinava quase até o chão, o casal descobriu que a sala de jantar estava envolta em furiosas chamas, que peritos em incêndio declararam mais tarde ser de "origem misteriosa". Nem o incêndio, nem as fortes pancadas na porta que salvaram a vida do casal, tinham explicação. Mas aquilo bastou. Joe Hyams reconsiderou sua decisão e pôs a casa à venda.
Pela descrição de Hyams, parece que ele e Elke Sommer experimentaram uma assombração clássica - não em um cenário tradicional, como um castelo antigo, às margens de uma solitária charneca inglesa, mas em uma casa moderna de uma agitada comunidade urbana. Na terra das vias expressas, da televisão e das linhas de montagem aeroespaciais, sob o brilho ardente do sol do sul da Califórnia filtrado pelo smog, o casal conquistou uma indesejável familiaridade com alguns dos elementos negros do que tem sido o material das histórias de fantasmas ao longo dos séculos, e que os pesquisadores da paranormalidade concluíram caracterizar casas e outros locais que são rotulados como assombrados.
Chamados às vezes de efeitos psi localizados ("psi" é um adjetivo abrangente, aplicado a eventos cuja natureza é aparentemente psíquica ou parapsicológica), tais elementos clássicos podem ser aparição de pessoa ou de animal que se repete várias vezes, em geral no mesmo lugar, e que é visível para uma ou mais pessoas, mas não para todos. As descrições de tais fantasmas vão de diáfanos espectros avistados apenas pelo canto do olho a convincentes figuras de aparência sólida, como o homem robusto vislumbrado na casa de Elke Sommer.
A qualidade recorrente da aparição - quando é vista repetidas vezes em um período de tempo - é importante para distinguir uma assombração de outro tipo de evento psi, conhecido como "aparição de crise". Considera-se que uma aparição de crise costuma ocorrer apenas uma vez, e com a imagem de uma pessoa conhecida por quem a vê; em geral é um amigo íntimo, ou um parente. Muitas vezes a pessoa que vê a aparição fica sabendo depois que, naquele exato momento, a pessoa que viu estava passando por uma crise - uma mãe vê a imagem do filho soldado no momento em que este é ferido, por exemplo, ou quando ele morre. Alguns pesquisadores que acreditam na percepção extrassensorial (PES) sugerem que a aparição de crise resulta de uma poderosa mensagem telepática transmitida pela pessoa cuja imagem aparece.
Na teoria do "éter psíquico" do professor Henry Price, da universidade de Oxford, uma imagem gerada pela atividade mental vive em outro plano, ou em planos múltiplos, mesmo que seu criador já tenha morrido. Price definiu o éter como "algo intermediário entre a mente e a matéria", em uma dimensão que desconhecemos. Ele supõe que esse éter registre as impressões psíquicas e transita-as às pessoas sensíveis.
Alguma "aparição de assombração", por outro lado, está associada a um local determinado, mais do que a uma pessoa.Pode ser percebida por várias testemunhas e talvez nenhuma a identifique com uma determinada pessoas. No caso Hyams Sommer, a aparição localizada recorrente - ou fantasma, para usar um termo mais comum, embora menos preciso - parecia esta associada à sala de jantar. Nenhuma das pessoas que afirmaram ter visto o homem robusto reconheceu-o. De vez em quando, contudo, a assombração é identificada com a imagem de alguém já falecido.
A teoria do parapsicólogo americano William G. Roll, a mente de quem vê o fantasma pode criar a própria aparição que percebe, tal como um olho que ao mesmo tempo projeta e observa. Mas ele afirma que, em muitos casos, o estado mental do receptor pode criar assombrações de forma inconsciente, para satisfazer necessidades emocionais.
Já a teoria postulada por Eleanor Sidgwick, os objetos absorvem impressões psíquicas, que depois devolvem a quem se aproxima. A nitidez da aparição e outros fenômenos depende da força emocional da marca original e da sensibilidade psíquica do receptor. Esse tipo de aparição pode emergir de uma simples parede conde permaneceu como resíduo de energia psíquica.
Segundo o relato de Hyams,o caso caracterizou-se também por outro elemento típico das assombrações clássicas: um ruído que simula o som de uma atividade humana. Neste exemplo, o ruído imitativo, tal como é chamado pelos pesquisadores,era o barulho do arrastar de cadeiras. O deslocamento de mobília é uma característica auditiva comum nas assombrações. (Passos que cruzam o cômodo, sobem ou descem escadas também são, assim como o estrondo de louça quebrada.)
A reação com cão do casal, latindo na sala de jantar, é outro elemento clássico. Na mente popular, um cão rosnando ou latindo para uma poltrona vazia ou para um cômodo ou canto vazio há muito denuncia a presença de fantasmas, e os pesquisadores modernos descobriram que mostras de agitação ou medo em animais fazem parte estatisticamente do padrão dos fenômenos conhecidos como assombrações. Hyams também encontrou abertas janelas que julgava ter trancado, outra ocorrência típica; em alguns casos, as testemunhas afirmam ter observado janelas ou portas se abrirem como se mãos invisíveis estivessem girando a maçaneta, ou soltando as trancas. E a maioria das assombrações manifesta-se durante a noite, tal como a maior parte dos eventos - mas não todos - ocorridos na casa de Beverly Hills.
O que quer que estivesse perturbando a tranquilidade doméstica de Joe Hyams e Elke Sommer, deixou de manifesta alguns dos fenômenos convencionalmente associados. às assombrações. Ninguém relatou ter visto bolas de fogo ou outras luminosidades estranhas, nem houve puxões inexplicáveis na roupas de cama. Áreas peculiarmente frias em uma casa também são mencionadas com frequência, tal como um aroma sulfuroso, ou outros cheiros peculiares. Nada semelhante foi relatado pelos Hyams.
No entanto, eles sofreram um incêndio perigoso. Se houvesse realmente um padrão paranormal em ação na casa, e se o fogo misterioso na sal de jantar fosse mais um elemento desse padrão, então pelo menos parte da experiência deveria ser mais adequadamente considerada como poltergeist do que como assombração clássica.
As manifestações de poltergeist envolvem muitos ruídos e movimentação de objetos - às vezes violentos - do que outras assombrações. Trata-se de uma sensação perturbadora para quem a experimenta, mas não envolve perigos reais. Se o incêndio era de origem paranormal, os Hyams foram vítimas de um tipo raro e extremamente assustador de assombração - que ameaça, ou chega a causar, danos físicos reais.
Finalmente a reação do casal também se encaixa no padrão clássico de assombração: procuram ajuda para tentar "assentar o fantasma",para livrar a casa das perturbações que estavam atormentando suas vidas. Ouve-se falar da prática de exorcismo e de outras técnicas para expulsar supostos espíritos perturbadores desde que se tem notícia de assombrações.
Pelo jeito é provável que as assombrações existam há muito tempo, desde que os seres humanos se tornaram capazes de pensar em fantasmas. A assombração já era com certeza um fenômeno bem conhecido no século IV a.C., quando o filósofo grego Platão escreveu sobre "a alma que sobrevive ao corpo". Às vezes, disse ele, essa alma é envolvida por "uma cobertura terrena, que a torna pesada e visível, puxando-a para baixo em direção à região visível. (...) E assim essas almas andarilhas assombram, como dizemos, as tumbas e monumentos aos mortos, onde tais fantasmas são vistos às vezes".
Supõe-se que um dos mas antigos registros referentes a uma assombração seja o de um traiçoeiro comandante espartano do século V a.C., Pausânias, que se refugiou em um templo ateniense e lá morreu de fome. O fantasma passou a aterrorizar os devotos no templo, com ruíds sobrenaturais, até ser exorcizado por um necromante.
A natureza das assombrações não mudou muito com o passar dos séculos. "Há muitas casas assombradas por espíritos e duendes, que perturbam sem cessar o sono dos que nelas moram", escreveu um francês chamado Pierre Le Loyer há quatrocentos anos. "Eles mexem e viram os utensílios, tigelas, mesas , prateleiras, pratos, cuias (...) atiram pedras, entram nos quartos (...) puxam as cortinas e perpetram mil travessuras." Mas os espíritos não causam danos reais, continuou, "pois todos os recipientes da casa que pareciam ter sido quebrados são encontrados intactos na manhã seguinte".
É interessante notar que a porcentagem de pessoas que alegam ter experimentado fenômenos de assombração permaneceu constante, pelo menos se os levantamentos feitos nos últimos cem anos forem uma indicação válida. Logo após sua fundação, em 1882, a Sociedade de Pesquisa Psíquica da Inglaterra fez uma pesquisa e constatou que cerca de 10 por cento das pessoas entrevistadas em uma ampla amostra relatava alguma experiência inexplicável - ver, ouvir, ou ser tocado pelo que parecia ser um ente vivo ou inanimado, sabendo da inexistência real de qualquer ser ou objeto parecido. Pesquisas semelhantes feitas na década de 70 nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e na Islândia tiveram respostas positivas de 9 a 17 por cento dos entrevistados. E a maioria dos que afirmaram ter visto, ouvido ou percebido de algum modo uma aparição relatava a ocorrência em sua casa, e não em um sinistro lugar cheio de teias de aranha, do tipo de ambiente popularmente associado a esse tipo de fenômeno.
"A pergunta de salão, 'Você acredita em fantasma?'é uma das mais ambígua que podem ser feitas", escreveu Henry Habberley Price, professor emérito de lógica na Universidade de Oxford, e ardente pesquisador da paranormalidade, que foi presidente da SPR, em duas ocasiões. "Porém se admitimos que ela significa 'Você acredita que as pessoas às vezes percebem aparições?', a resposta é que certamente acreditam. Ninguém que examine as provas pode chegar a qualquer outra conclusão. Em vez de contestar os fatos, temos que tentar explicá-los."
A primeira tentativa sistemática de explicaras aparições e as demais características das assombrações começou com a fundação da Sociedade de Pesquisa Psíquica (SPR, sigla em inglês). Os primeiros pesquisadores - em sua maioria acadêmico de diversas áreas - começaram coletando centenas de relatos pessoais e tentando descartar os incidente que podiam ser atribuídos a causas naturais, fraude ou fontes pouco confiáveis. Sempre que possível, os pesquisadores da SPR esforçavam-se para observar os fenômenos pessoalmente.
G.A. Smith foi um membro da SPR que teve uma experiência particularmente íntima com uma assombração. Em 1888, ele mudou-se cm a esposa para uma pequena casa do balneário de Brighton, na costa sul da Inglaterra. Aparentemente a sociedade incentivou, e talvez até tenha subsidiado a mudança da família, para poder inspecionar mais de perto a assombração que, segundo se dizia, há alguns anos vinha atormentando os moradores da casa.
Senhorita L. Morris - este foi o pseudônimo atribuído pela SPR ao primeiro morador cujos problemas chamaram a atenção.(Como rotina, os pesquisadores identificavam com pseudônimos s pessoas que alegavam experimentar fenômenos de assombração, para protegê-las da curiosidade). A senhorita Morris mudara-se para a casa em 1882 e era evidentemente uma jovem resoluta. Ao ouvir ruídos estranhos em sua nova casa, armara-se com um ferro de lareira e fora de cômodo em cômodo desafiando o intruso invisível. Ela ouvira passos e pancadas persistentes, mas o ruído imitativo mais alarmante enquanto ela esteve na casa fora o violento de descontrolado toque de campainha da porta. Era um dispositivo mecânico antiquado, com uma alavanca externa ligada a um arame que acionava um sino dentro da casa;quando um visitante puxava a alavanca, o arame fazia o sino tocar. Em seus primeiros dois anos na casa, a moça enfrentou diversas vezes o que chamava de "tocar e correr": quando ia atender, não havia ninguém e ela atribuía a moleques.
A partir de junho de 1884, porém, "por três semanas, com intervalos de quinze minutos ou de meia hora, o sino tocou incessantemente, e com tal estrondo que ficávamos eletrizados" Os moradores da casa ficavam de vigia, com a porta aberta, para ver se havia alguém, mas a campainha tocava assim mesmo. Finalmente, a senhorita Morris mandou arrancar o sino. Depois de removê-lo, deve ter sentido um calafrio na espinha quando ela e seus criados viram que o arame do sino retirado continuava a vibrar, "como se o sino ainda estivesse ligado a ele". Apesar disso, a indômita senhorita Morris permaneceu por ais dois anos na casa antes de mudar-se , e acrescentou suas experiências a visão de uma aparição feminina com um rosto pálido e triste.
Depois de ficar vazia por um ano, acasa foi ocupada por uma viúva, a senhora Gilby (outro pseudônimo), e seus dois filhos. A campainha, reinstalada, deu-lhe os mesmos problemas. Pior ainda, certa noite, duas semanas após mudar-se , ela ouviu soluços e queixumes, acompanhados de pesadas pancadas. Verificando nos quartos, viu que seus filhos e a empregada dormiam profundamente. Acordou a empregada e pelo reso da noite as duas mulheres ouviram soluços e gemidos, e uma voz "doce" repetido a frase, "Oh, perdoa-me". Daí a seis meses a aflita senhora Gilby mudou-se de casa, mas não sem registrar que também vira "um rosto pálido de mulher".
Dois dos mais destacados pesquisadores da SPR daquela época, Edmund Gurney e Frank Podmore, investigaram o caso. Ambos era respeitados como homens de inquestionável probidade. Gurney era um estudioso clássico e membro do Trinity College, em Cambridge; Podmre era um funcionário público de carreira. Os dois interrogaram quatro grupos independentes de testemunhas, que garantira ter observado o mesmo tipo de fenômeno na casa. Neste caso, a SPR não precisou basear-se apenas em testemunhas de terceiros; pode instalar no local seu próprio homem, G. A. Smith, que fora secretário de Gurney.
É típico dos anais das assombrações que, quando os pesquisadores chegam em pessoa para ver o que está acontecendo, os fantasmas e manifestações correlatas entram em repentinas férias; talvez os pesquisadores perturbem a atmosfera psíquica, ou talvez os relatos não sejam assim tão precisos. Mas isso esteve longe de acontecer neste caso, Smith não só encheu as páginas de seu meticuloso diário com detalhes dos diversos eventos estranhos ocorridos durante os treze meses em que esteve na casa, como também hospedou nada menos que 137 pessoas, a maioria do SPR ansiosos por uma experiência em primeira mão cm uma assombração. Não ficaram desapontados. A campainha continuava tocando desnorteadamente e ouvia-se um ruído frequente de pancadas no assoalho, que soavam como um martelo, "usado com força bastante para cravar pregos", falou-se também do som de alguém arrastando um tijolo pelo piso de linóleo.
No dia 15 de dezembro de 1888, o casal Smith testemunhou algo que etá mesmo o sofisticado homem da SPR achou "extremamente notável e inexplicável". Por volta de 23,35 horas, a a esposa dele estava fazendo suas orações na sala de estar enquanto ele se preparava para deitar, no quarto ao lado. De repente, um violão que estava pendurado na parede da sala de estar emitiu três notas musicais, que Smith caracterizou como "pom, pam, pim". Quando sua esposa perguntou. "Você ouviu isso?, o violão repetiu a frase musical duas vezes.
A senhora Smith asseverou que durante a segunda e a terceira vez ela estava olhando diretamente para o instrumento, mas nada viu que pudesse fazê-lo soar - nenhuma pessoa, nenhum rato, nada. Smith salientou que o som não poderia ter sido causado por um movimento das cravelhas de afinação, pois isso teria mudado a frequência, e portanto as notas, com o afrouxamento das cordas.
Terminado o estudo da casa, os Smith saíram dela, em sembro de 1889. Ao serem entrevistados, no ano seguinte, os inquilinos subsequentes não mencionaram anormalidade alguma. O casal Smith parece não ter sofrido qualquer trauma notável durante sua pesquisa de assombrações em primeira mão. Na verdade, o diário de Smith parece indicar que ele sentia uma certa exaltação contida durante esses experiências. Em outo caso que a SPR relatou pouco tempo depois, contudo, um homem de ciência decididamente cético que se envolveu em uma investigação chegou ao fim de sua participação em total estado de pânico.
A SPR publicou um relato desse caso em 1891, quando o diário de um dos principais envolvidos ficou disponível, mas na verdade os eventos haviam transpirado algumas décadas antes. Os incidentes aconteceram em uma residência adjacente ao moinho Willington, perto de Tyneside, no norte da Inglaterra, a partir do outono de 1834. A casa era habitada por uma família quacre, os Procter. (Foi o diário do senhor Procter que forneceu os detalhes do caso.)Todos os membros da família disseram ter ouvido passos, assobios, o som de alguém dando corda a um relógio e um pisoteio irado, juntamente com vozes. Afirmam que as camas eram levantadas e tremiam durante a noite. Um vizinho relatou ter visto uma aparição branca e translúcida de uma mulher em uma janela, e depois disso o mesmo fantasma foi visto diversas vezes pela família. Outros relatos falavam de um rosto branco que às vezes ficava olhando para os moradores por cima do corrimão da escada. Isso aconteceu durante seis anos, até que um médico da região, Edward Drury, ficou sabendo da história e pediu a Procter permissão para passar a noite na casa. Chegou com um amigo, T. Hudson, no dia 3 de julho de 1840, um dia em que a família não estava; armado com várias pistolas, "sentou-se no patamar do terceiro andar, esperando estar plenamente preparado para dar conta de maneira filosófica de quaisquer ruídos que pudesse ouvir."
O doutor Drury contou que esperou apenas 50 minutos, e então começou a ouvir ruídos de passos, depois o barulho de alguém batendo no assoalho e uma fosse seca. As coisas se acalmaram e Hudson, o companheiro de Drury, adormeceu no chão. Por volta de 0h50, o médico ficou de olhos esbugalhados em frente à porta do armário, que se abria, nitidamente, vendo também a figura de uma mulher em veste cinzas, com a cabeça inclinada para baixo. O espectro avançou para ele. Gritando, Drury atirou-se contra ela. Mas m vez de agarrar o fantasma ele caiu em cima do amigo adormecido e não se lembrou de "nada distintamente por quase três horas, depois disso". Mais tarde ele escreveu, "fiquei sabendo que fui carregado para baixo, em uma agonia de medo e terror". Procter observou no dia seguinte que o doutor Drury "teve um choque do qual tão cedo não se livraria".
Os fenômenos de assombração acabaram expulsando os Procter da casa em 1847. Ocupantes posteriores relataram alguns ruídos estranhos, mas em 1890 as assombrações pareciam ter acabado. Depois, a casa foi demolida.
À medida que os resultados dessas investigações iam sendo publicados e discutidos ao longo dos anos, as tentativas de explicar as aparições iam produzindo uma multidão de teorias e perguntas ainda mais numerosas. Eleanor Sidgwick, uma matemática que era diretora do Newnham College,em Cambridge, e que também era irmã do primeiro ministro britânico, A. J. Balfour, coordenou o primeiro grande estudo da SPR sobre o tema. Ela formulou uma das perguntas básicas desde o início:uma aparição existe independentemente das pessoas, ou seja, está presente mesmo que não haja alguém para percebê-la? Ou é algum tipo de comunicação de uma fonte transmissora que requer a presença de um receptor?
De acordo com os espíritas, uma aparição é de fato uma entidade independente - o espírito desencarnado de um indivíduo falecido. Esta, claro, é a explicação popular para os fantasmas. Algumas pessoas que adotam essa teoria dizem que o espírito está preso à terra porque deseja alguma coisa, outras afirmam que es´t aqui apenas por habito, ou por estar louco. Algumas teorizam que a entidade, para criar uma presença visível, extrai de algum modo energia dos seres vivos, até mesmo de plantas se não houver um ser humano ou outra forma de vida animal disponível.
Muitos dos mais importantes parapsicólogos que ponderam sobre a questão das assombrações rejeitam como anticientífica a ideia de um espírito que sobrevive `morte corporal. Mas parece igualmente difícil provar cientificamente algumas das explicações alternativas, ainda que possuam um certo grau de consciência lógica.
Em 1919, um dos principais peritos italianos em fenômenos psíquicos, Ernesto Bozzano, propôs que a mente da pessoa - todo o complexo de pensamento e experiência mental do indivíduo - poderia de algum modo ter uma existência além da vida corporal, e continuar presa a um cenário terreno após a morte. Nessa caso, a mente desencarnada funcionaria como um agente telepático, enviando mensagens mentais que provocariam ruídos, moveriam objetos e fariam com que as pessoas visse sua forma.
Frederic W. H. Myers, que como Gurney era um estudioso clássico do Trinity College e um dos fundadores da SPR, observou que o comportamento que se costuma descrever como se fosse de um fantasma muitas vezes se assemelha aos movimentos e sons repetitivos e aparentemente sem sentido, típicos de sonhos, em vez de ações coerente e deliberadas de uma pessoa acordada. Ele sugeriu a possibilidade de que as aparições não fossem os próprios mortos, mas seus sonhos. assim como os efeitos de uma ação podem persistir depois que a própria ação terminou, postulou Myers, é possível que o mesmo ocorresse com os efeitos de uma ação mental como o sonho. O sonho persistente, de algum modo, faz com que o receptor tenha alucinações com as imagens oníricas.
A alucinação, é claro, tem um papel em muitas teorias sobre as assombrações. Mas mesmo os parapsicólogos que consideram todas as aparições como alucinações, no sentido de que não têm qualquer forma física sólida, têm questões e noções conflitantes tanto sobre as coisas quanto sobre o mecanismo do processo alucinatório.
Se uma aparição é uma alucinação, como é que, em certas ocasiões, vários receptores vêem o mesmo fantasma ao mesmo tempo, ou em momentos diferentes? Para alguns pesquisadores, uma pessoa sofre primeiro a alucinação subjetiva que constitui a assombração e depois transmite-a aos demais por meios telepáticos. Uma dessas teorias sugere que a mensagem telepática enviada pela primeira pessoa que sofreu a alucinação pode permanecer pairando no ambiente e fazer com que outros percebam a assombração mais tarde.
Mas o que ocorre nos casos de "alucinações verídicas", isto é, naqueles casos em que os receptores ficam sabendo,através da aparição, alguma coisa a respeito do morto que ela representa - detalhes da aparência, ou fatos biográficos - que uma pesquisa ulterior verifica ser verdadeira? Como podem esses detalhes verdadeiros, que os receptores não conheciam de antemão, ser parte de uma alucinação subjetiva?
Para explicar esses casos, os estudiosos do tema propuseram diversas maneiras pelas quais a energia psíquica poderia persistir após a vida da pessoa que a origina. Eleanor Sidgwick sugeriu que a própria estrutura de uma casa poderia absorver impressões psíquicas de pessoas que nela residiram. Essas mensagens armazenada disparariam uma reação psíquica na mente das pessoas que entrassem depois na casa, especialmente nas psiquicamente sensíveis. (Isso se assemelha à ideia da psicometria, em que um médium alega ter a capacidade de obter informações pela "leitura" das vibrações psíquicas de objetos, tais como um prendedor de gravata ou um relógio.)
Um estrutura muito antiga poderia, presumivelmente, estar carregada de impressões psíquicas particularmente poderosas, por terem se acumulado durante muito tempo. Se for verdade, isso pode explicar o número de castelos e mansões antigas supostamente assombrados. Um excelente exemplo é o castelo de Wildenstein, construído no século XV perto de Heilbronn, na Alemanha. Nele, uma longa lista de pessoas ao longo de muitas gerações - inclusive visitantes, empregados, proprietários, alegam ter experimentado um espantoso espectro de acontecimentos arrepiantes.
Uma ocorrência típica foi relatada em 1945, logo depois do fim da Segunda guerra Mundial,quando soldados americanos ficaram estacionados no castelo. Um oficial estava tomando banho quando a porta do banheiro se abriu de repente, e uma jovem de branco entrou. O oficial mandou-a sair, mas ela ficou parada, olhando para ele. Irritado, ele saiu da banheira e tentou empurrá-la para fora - mas a mão dele passou através dela. Então, a aparição desvaneceu-se e o oficial correu para a cozinha, nu e apavorado, para relatar sua experiência.
As lendas falam de séculos de atividades assombrosas no palácio, mas os relatos escritos mais antigos datam da década de 1850, segundo Hans Bender, um parapsicólogo alemão que estudou o castelo em profundidade. Naquela época, um empregado do castelo, após ver a aparição de um homem arrastando uma corrente pela porta de seu quarto, recusou-se a continuar dormindo n edifício; o mesmo ocorreu com um professor, que se assustou certa noite com "um grande barulho" inexplicável. A esposa de um policial avistou a imagem enevoada de uma mulher, ao mesmo tempo que ouvia o farfalhar de seda sendo arrastada pelo assoalho. Nos anos vinte, um padre, em visita ao castelo para participar de um serão musical, viu chamas lambendo uma parede, mas o fogo desapareceu enquanto ele olhava.Música fantasmática foi ouvida com frequência até a década de 50, quando o castelo pertencia a Maximilian, barão Hofer vom Lobenstein - um nobre que trabalhava como superintendente médico de um hospital vizinho - e sua esposa, Anneliese. A baronesa contou que certo dia, quando seu marido não estava, ela viu um menininho vestido de marinheiro que se sentou do outro lado da mesa da cozinha onde ela estava, e ficou olhando para ela com ar amigável. Ela escreveu ao marido a respeito, e ele respondeu que era possível que ela tivesse visto o pequeno Adolph, um menino que morrera de difteria em 1890, aos seis anos de idade. Maximilian informou-lhe que ela poderia encontrar um retrato do menino no depósito. Ao olhar o retrato, ela notou considerável semelhança co o fantasma visto na cozinha -um indício, ainda que não fosse uma prova conclusiva, de que a aparição era verídica, ou verificável. Muitos visitantes d castelo disseram ter ouvido uma criança chorando na noite.
O barão relatou que certa vez, por volta das 23 e 30, ele estava pondo os cães para fora quando viu, com espanto, um homenzinho barbudo parado a cerca de três metros. Achando que era um reflexo, o barão entrou e apagou as luzes; ao sair de novo, porém, a figura, que ele concluiu ser um duende, continuava lá, e cabriolou à roda dele por alguns minutos antes de sumir. Conforme era esposa relatou a Bender, ele não acreditava em duendes, e ficou "muito bravo" por ter visto um. Depois disso, a própria baronesa viu o duende por um momento - em plena luz do dia.
Como os vários supostos eventos paranormais no castelo de Wildenstein não se limitavam a um único receptor, ou sequer a várias gerações de uma mesma família, mas foram experimentados por muitos observadores diferentes ao longo de vários anos, Bender concluiu que "devemos supor (...) que alguma ação ou evento capaz de provocar fortes emoções nas pessoas envolvidas cria uma atmosfera que fica ligada ao local, mas é independente das pessoas; essa atmosfera causa os eventos paranormais, ou favorece seu acontecimento". Esse ponto de vista não difere muito da teoria de Eleanor Sidgwick acerca de casas que absorvem impressões psíquicas.
O professor H.H. Price sugeriu a possibilidade de que não seja de fato a estrutura da casa que preserva as mensagens, mas o que ele chamou de "éter psíquico", uma dimensão invisível, talvez "paralela às dimensões que conhecemos". Essa dimensão, especulava ele, pode ser muito sensível às impressões psíquicas e gravá-las, mais ou menos como um filme. A maioria das impressões seria trivial, mas uma experiência emocional profunda seria gravada nitidamente, e poderia ser discernida com facilidade por uma pessoa excepcionalmente sensível. Essa cena de outra dimensão poderia repetir-se sem cessar, com a repetitividades que é muitas vezes associada às assombrações.
Andrew Mackenzie, um prolífico pesquisador e escritor inglês de assuntos paranormais, acha que "não há um agente inteligente", falecido ou não, atuando na maioria dos casos de assombração. Mas concorda que "uma interação sutil entre uma pessoa ou uma família e uma casa ou uma área" causa muitas das assombrações. "Alguns lugares estão imbuídos de uma sensação ou atmosfera - chamem como quiserem - que pode ser experimentada por uma pessoa muito sensível, mas não por outras e essa interação entre a pessoa e o lugar pode resultar em alucinações nas quais são vistas aparições, ou ouvidos passos e outros ruídos estranhos.
A importância da sensibilidade do receptor aos sinais psíquicos ficou evidente em uma série de incidentes ocorridos em Ardachie Lodge, a alguns quilômetros de Glasgow, durante a década de 50. P. J. M. McEwan, um membro da SPR formado em psicologia pela Universidade de Edimburgo, comprou a casa em 1952. Ela fora habitada anteriormente por uma certa"senhora B.", uma paralítica inválida e que também era vítima de uma doença mental.Acabou sendo hospitalizada e morreu três anos antes que McEwan chegasse com a esposa. Os McEvan não tiveram qualquer experiência incomum em Ardachie Lodge até contratarem um casal, os Mathew, como domésticos, no dia 17 de agosto de 1953.
Os novos empregados, londrinos que nunca haviam estado na região antes, recolheram-se cedo em sua primeira noite na casa, mas logo desceram par dizer aos McEwan que ambos haviam ouvido nítidos ruídos de passos do lado de fora do quarto deles, apesar de não haver ninguém lá. Os McEwan não deram muita importância ao incidente, e os Mathew voltaram para a cama - e vinte minutos depois estavam de volta dizendo ter ouvido batidas na parede, convencidos de que algo de sobrenatural estava à solta. O senhor McEwan e o senhor Mathew ficaram sentados no escuro no quarto dos empregados por alguns momentos, mas não ouviram nada. Mesmo assim, os Mathew pediram para dormir em outro quarto, o que providenciado. Assim que entrou no novo quarto, a senhora Mathew ficou agitada e disse: "Há uma mulher neste quarto". Ficou rígida e olhou para um canto do quarto fortemente iluminado, como se estivesse em transe. Após alguns momentos controlou-se e, como se despertasse de um sonho, disse que havia visto uma senhora de touca e xale, chamando-a com gestos.
Os McEwan arranjaram mais um quarto para o Mathew, mas poucos minutos depois foram de novo acordados pelos empregados. Desta vez, o assustado casal havia ouvido batidas na cabeceira da cama, acima da cabeça da senhora Mathew. Quando os quatro entraram no quarto, a senhora Mathew ficou novamente rígida. Disse estar vendo de novo a senhora, que estava agora engatinhando em direção a ela.
O casal de empregados não ficou por muito tempo na casa, mas os McEwan aproveitaram sua permanência para estudar a alegada assombração dos Mathew enquanto puderam. Dois outros membros da SPR juntaram-se a eles. À noite, o grupo manteve-se de vigília no quarto de Mathew, monitorando a inquietação da senhora Mathew e seus relatos de batidas; observaram que ela tendia a dormir com o punho firmemente cerrado e o braço rígido e McEwan acabou concluindo que talvez ela fosse "psicologicamente desequilibrada".
Contudo, a essa altura os McEwan sabiam também que a descrição da aparição vista pela senhora Mathew coincidia quase exatamente com a aparência da antiga proprietária inválida de Ardachie Lodge. Ficaram sabendo que, em seus últimos dias, a senhora paralítica havia começado a andar de quatro para mover-se pela casa - exatamente como a doméstica havia descrito. Depois qe a senhora Matheu contou sentir-se particularmente desconfortável em um ponto específico do jardim, os McEwan descobriram que a proprietária anterior passara muito tempo naquele mesmo ponto, cuidando de suas rosas. Os Mathew, que não eram da região, não podiam saber dessas coisas. A aparição parecia ser realmente verídica.
Em seu relatório à revista da SPR, McEwan declarou estar convencido de que "haviam ocorrido atividades paranormais, que haviam sido possíveis por causa do estado mental" da senhoraMathew. Após a partida do casal de londrinos, não foram mais relatados fenômenos de assombração em Ardachie Lodge. Apesar dos aspectos verificáveis que indicavam não ser mera alucinação da senhora Mathew, a aparição parecia depender da sensibilidade psíquica dela para ser percebida.
Outro caso inglês dá ainda mais peso à importância dos dons paranormais do receptor, sugerindo que um indivíduo psiquicamente sensível pode convocar presenças tão fortes a ponto de serem percebidas por outras pessoas - e às vezes até mais substanciais do que meras aparições.
O cso foi investigado pelo experiente parapsicólogo holandês Georgr Zorab, que foi quem descobriu, e por McKenzie, que relatou entrevistas sobre os acontecimentos e colaborou com Zorab na elaboração do relatório publicado. Envolvia uma jovem identificada como Thelma Graham, que cresceu em uma casa dos arredores de Londres. Uma criada, chamada de "senhora Turner" no relatório, começou a trabalhar na casa em 1965, quando Thelma, a mais jovem de três irmãs, tinha 10 anos de idade. Logo após ser empregada, a senhora Turner disse perceber uma presença na casa, sentindo muitas vezes que queria passar por ela na escada. Mais tarde, quando Thelma tinha já uns 20 anos, a senhora Turner certa vez afirmou ter sentido que a presença a empurrara fisicamente e, perturbada pela experiência, pediu as contas.
Enquanto isso, segundo o relatório, Thelma começou a ver uma figura feminina esvoaçando pelo andar de cima e a ouvir ruídos tumultuados vindos da cozinha à noite. George Wells, marido de sua irmã que estava em visita à família, acordou no escuro de uma noite e viu a imagem de uma mulher mexendo no alto do armário do quarto, como se estivesse limpando; vestia algo que lhe pareceu um uniforme de serviçal do século XIX. A mãe de Thelma também disse ter experimentado acontecimentos estranhos. De vez em quando ouvia portas se abrirem e fecharem e, uma vez, quando estava falando ao telefone, viu apavorada uma porta abrir-se diante dela, uns 30 centímetros, sem qualquer intervenção humana aparente; depois fechou-se novamente, repetindo a ação por cinco vezes.
Alguns parapsicólogos dizem que a tensão emocional existente em uma casa costuma ser um elemento comum à maioria dos casos de assombração e de poltergeist. Thelma Graham teve uma adolescência que tanto ela como seus pais descreveram como difícil. Ela saía de casa mais do que seus pais gostariam, provocando brigas frequentes. Aparentemente, ela também passou por um quadro leve de anorexia - uma perturbação que se caracteriza por subnutrição auto infligida e por todo um complexo de problemas emocionais concomitantes, comum principalmente entre garotas adolescentes que se preocupam muito com a própria aparência.
O pesquisador psíquico George Zorab acredita que a perturbada Thelma servia como um "centro de energia" na casa, pois teria - sem saber - poderes paranormais mediúnicos e, em seu estado emocionalmente perturbado, causava os fenômenos psíquicos. Zorab afirma que os fenômenos assim provocados não são, necessariamente, meras alucinações subjetivas, podendo possuir "massa de Objetividade".
Se esse fosse o caso naquela ocasião, é possível que a energia de Thelma tivesse de algum modo dado substância aos traços psíquicos remanescentes de uma empregada que trabalhara na casa em época anterior? Poderia Thelma ter dado à aparição uma substância tão tangível que ela pôde ser vista por seu cunhado, fez com que a porta se abrisse e fechasse na presença da mãe dela e chegou de fato a empurrar a senhora Turner, que ocupava nos tempos de então o mesmo posto da criada há tanto tempo falecida?
Andrew MacKenzie descreve essas assombrações como "manifestações de um aspecto da realidade sobre o qual temos atualmente apenas vislumbres de entendimento". Mas um importante parapsicólogo americano, William G. Roll, acha que o entendimento da humanidade passou dos vislumbres para um estágio um pouco mais concreto. Ele esboça uma explicação abrangente para as assombrações, na qual várias causas de graus distintos compõem um espectro.
Em uma das pontas do espectro, diz Roll, estão os casos nos quais as imagens e sons de uma assombração podem ser claramente ligados a um indivíduo, ou a acontecimentos específicos - a morte súbita de um morador da casa, por exemplo. "Esse tipo de ocorrência parece deixar no ambiente uma impressão à qual muitas pessoas podem reagir", afirma. "A fonte do efeito localizado é uma marca forte, como uma memória, deixada na ambiente físico. "Roll diz que, para entender esse tipo de memória impressa" não é preciso falar de éter psíquico", mas simplesmente aceitar"que as memórias estão lá".
"Os acontecimentos que deixaram marcas fortes em nossa memória - morte, acidentes e assim por diante - são do mesmo tipo dos que são fortes fora de nossos corpos", diz ele. "Tudo que temos a dizer é que não há distinção nítida entre a mente e a memória, e que os processos transcorridos no cérebro humano também podem ocorrer no ambiente humano. Para mim, o principal interesse desses fenômenos é o fato de sugerirem que o corpo e a mente, e a mente e a memória não estão separados com tanta clareza quando havíamos sido levados a penar, que a mente está envolta em matéria, que há sentido na matéria, que o ambiente físico tem qualidades mentais originadas das pessoas que viveram nesse ambiente."
Na outra ponta do espectro, segundo Roll, "há outro tipo de assombração, da qual o receptor pode ser a fonte". Tipicamente, diz ele, esse tipo de situação ocorre quando !uma família está desequilibrada; o marido fica longe de casa por muito tempo, deixando a mãe sozinha com o bebê, ou eles estão com problemas e não têm uma relação íntima". Nesse caso, sugere, "uma realidade objetiva", uma espécie de semi-personalidade, é às vezes criada para preencher o espaço vazio.
"É como um sonho que se torna realidade", explica o pesquisador, "uma forte necessidade que de algum modo cria uma situação para satisfazê-la. Minha impressão é que as memórias se configuram como reação às necessidades. E isso tanto pode acontecer em um duplex novo quanto em uma mansão antiga." Outros casos situam-se no espectro de Roll segundo o peso relativo das forças envolvidas: o traço psíquico remanescente, de um lado, e as necessidades do receptor, do outro.
Uma série de ocorrências de assombração registradas não em uma antiga mansão, nem em um duplex novo, mas no inverossímil cenário de uma estação de rádio, pode servir como exemplo da combinação de causas de Roll - traços psíquicos e necessidades do receptor. Em 1981, o gerente de uma estação de rádio do estado da Virgínia telefonou para a Fundação de Pesquisas psíquicas - um estabelecimento de pesquisas dirigido por Roll, na época instalado em Durham, na Carolina do Norte - em busca de assistência para algo que lhe parecia uma assombração. O gerente disse que a estação não queria publicidade, mas apenas dar um basta à "perturbação".
Ao reconstituir a história, os pesquisadores da Fundação de Pesquisas Psíquicas - Roll, Teresa Cameron e Pauline Philips - descobriram que o primeiro vislumbre da figura ocorrera em uma noite de outubro de 1980, quando um engenheiro da estação estava consertando uma porta, por volta de 18,30 horas. O funcionário, chamado de William Morrison no relatório, estava sozinho no prédio, com exceção de um locutor, trabalhando na sala de controle. Morrison disse que estava indo buscar uma ferramenta quando viu, na sala do departamento de vendas da estação, a cerca de quinze metros de onde ele estava, a figura de um homem vestido com um paletó xadrez marrom. Morrison não se lembrava de nenhum detalhe da figura, a não ser o casaco; não se recordava de ter visto a cabeça, ou as pernas. isso não era muito surpreendente: o escritório estava mal iluminado e Morrison, além de cansado, havia perdido a visão de um olho por causa de um glaucoma. O relatório diz que Morrison não ligou muito, mas não pode ignorar a figura quando a viu de novo, naquela mesma noite e ela desapareceu à medida que ele começou a se aproximar. Abalado, ele decidiu manter a experiência em segredo.
Em um ou dois dias depois, uma jovem que produzia comerciais para a estação disse ter visto o tronco de um homem - não havia cabeça ou pernas à vista - vestido com um casaco marrom. Pela "postura e pelo jeito das mãos", a aparição fez com que ela recordasse um ex empregado da estação, Charles Michaux, que morrera em 1978. "Chocada e assustada" com a experiência, ela contou-a a seus colegas e então Morrison descreveu o que havia visto. Ele comentou que a assombração também o fizera lembrar-se de Michaux. No mês seguinte, um jovem locutor identificado como Jack Sneider contou que estava sozinho no prédio e pensou ter visto Morrison, mas recebeu um telefonema do engenheiro e percebeu que algo andava mal. Fez uma busca pelo prédio e nada encontrou. Cerca de um mês depois, Sneider afirmou ter visto uma figura de mais de 1,80 metro "surgir, envolta em sombra", diante dele, mas a imagem sumiu quando ele se agachou para evitá-la.
Em abril de 1981, uma jovem recepcionista disse que seu oração "disparou" quando ela viu a figura transparente de um homem passar diante dela no corredor e depois desaparecer. Correu para a sala dos fundos, onde algumas pessoas estavam almoçando, e exclamou. "Meu Deus, eu vi um fantasma!". Descreveu-o com um casaco escuro, e disse que a imagem tremia como "ondas de calor levantando-se da estrada". Um dos presentes era Henry Eaton, outro engenheiro, que logo relatou ter visto naquele mesmo dia um homem desconhecido sentado no escritório do gerente da estação (naquele dia o gerente estava ausente). Henry comentou que desviara o olhar por um momento, e ao olhar de novo o homem havia sumido.
Os pesquisadores ficaram sabendo que Charles Michaux havia sido amigo dos dois primeiros receptores, mas os três subsequentes, contratados depois, não o haviam conhecido. Michaux, tal como se ficou sabendo, fora despedido abruptamente pouco antes do Natal, em 1977. Fora uma situação carregada de emoção, não só para Michaux, como para todos na estação. Com efeito, uma violenta briga ocorrida em virtude de um incidente durante a festa de Natal dos empregados causar custosos danos em um restaurante. Os sentimentos devem ter ficado ainda mais intensos com a morte de Michaux, no ano seguinte. Os pesquisadores consideraram a possibilidade de que Michaux, súbita e profundamente ofendido pela dispensa, houvesse deixado um "traço psíquico inconsciente" de si mesmo na estação e rádio, um fragmento obsessivo de sua personalidade, que ficou pairando em seu antigo ambiente.
Os pesquisadores concluíram que três das pessoas que mencionaram a aparição estavam tendo dificuldades emocionais. E três dos receptores haviam dado mostras de sensibilidade psíquica em ocasiões anteriores; portanto, "podem ter estado predisposto a experiências aparicionais". Essa informação não queria dizer que as histórias deles não fossem confiáveis, mas incluía um fator que poderia ter contribuído para as ocorrências. "Talvez o receptor de uma aparição não seja um observador neutro, sugeriu um relatório, "mas evoque a imagem de uma pessoa ou uma ocorrência que coincide com o seu próprio estado emocional. Isso não significa que a aparição não é 'real'. Pode ainda assim representar uma personalidade consciente sobrevivente, um traço psíquico inconsciente ou algo entre esses dois extremos. Se houver qualquer substância nessas especulações , aparentemente os receptores reagiram à personalidade de Michaux no momento em que ele foi despedido."
Os empregados da estação de rádio ficaram perturbados pelos estranhos acontecimentos. Mas a experiência de Roll com inúmeros outros casos levou-o a acreditar que ""muitas pessoas ficam felizes com suas assombrações", pois suas necessidades emocionais estão sendo satisfeitas. Elle diz que há outros exemplos, contudo, nos quais o receptor fica ansioso e "a ansiedade aviva as chamas", as quais, por sua vez, acrescem e "ficam ameaçadoras", criando ainda mais ansiedade.
É verdade que essa explicação parece mais uma análise complicada de uma verdade simples, conhecida há séculos, muito antes de os parapsicólogos começarem a pesquisar a mecânica de aparições e ruídos imitativos : os fantasmas podem ser aterrorizantes. Veja-se, por exemplo, a experiência de um jovem pastor americano e sua família,que em 1930 se mudaram para uma nova casa e, segundo contam encontraram nela uma presença apavorantemente malévola.
O caso foi relatado anos mais tarde pela mulher que o experimentou, chamada de Esther De Leau no Journal of the American Society for Psycal Research, que publicou a história. Morando havia pouco em uma cidade identificada como M. Esther descontente com a casa alugada por seu marido, em que o quintal não tinha qualquer sobra para os seus três filhos pequenos, em uma região onde as temperaturas no verão podiam chegar a 43 graus Celsius. Ficou encantada quando encontraram outro lugar, "uma grande casa de dois andares e aparência acolhedora, com árvores enormes a toda a volta, uma grande varanda e uma pérgola com treliças". O reverendo De Leau, aparentemente irritado com a mudança, opinou que não se passariam 24 horas antes que sua esposa encontrasse uma dúzia de coisas erradas na casa. "Valha-me", respondeu ela lançando-lhe um olhar feroz. "Nunca direi uma só palavra sobre este lugar, não importa o que haja de errado."
"E não disse", lembrou-se muito mais tarde, até que a casa quase me matou."
O primeiro indício de problemas surgiu no dia em que se mudaram, quando o pequeno Ernie De Leau negou-se a brincar em um quarto. "Eu não gosto daquele quarto", declarou ele à mãe. "Tem um fantasma naquele armário." Esther disse-lhe que não fosse tolo. Embora o menino persistisse na recusa de brincar naquele quarto sozinho, ela nada mencionou ao pai, receando que De Leau se limitasse a rotular a coisa como uma das reclamações que ela estava decidida a não fazer.
Em poucas semanas, porém, nas muitas noites em que o pastor estava fora atendendo aos assuntos da igreja - treinando o time de basquete, fazendo reuniões de oração, atendendo aos doentes - sua esposa começou a sentir uma presença ameaçadora na casa. Sentia que ela emanava de uma velha cisterna fechada sob a pérgola e subia pelo teto da varanda até o corredor do andar de cima. "Dia após dia, semana após semana, aquilo ia aumentando em intensidade e horror", contou ela.
À medida que a noite avançava, ia ficando mais forte, até que finalmente pude determinar o momento de sua chegada - às 22 horas exatamente, aquilo estava no corredor, esperando. E quanto mais crescia sua intensidade e crescia sua animosidade, mais fácil ficava "ver a coisa - uma presença alta, escura, sem rosto e envolta em um manto, totalmente má, totalmente vil. Só esperando e odiando, ali no corredor."
Ela tentou não ceder ao medo, "pois sabia que se fizesse isso, tudo estaria perdido". Rezava muitas vezes por dia e colocou Bíblias por toda a casa, mas nem assim livrou-se do terror.Manteve a resolução de não mencionar seus sentimentos ao marido, mas percebia que também ele tinha consciência da presença má. Observou que ele fechou a pérgola com tábuas,dando alguma desculpa obviamente inconsciente, e não estava dormindo melhor que ela.
Os dois finalmente admitiram o medo que tinham em comum quando De Leau partiu para uma convenção da igreja, que duraria três dias, e sentiu-se estranhamente compelido a voltar dirigindo a noite inteira para chegar em casa. Chegou ao amanhecer e encontrou a esposa aterrorizada, com as três crianças em um quarto do andar de baixo, e uma Bíblia em cda degrau da escada que levava para o andar de cima.
"Foi então que comparamos nossas observações", escreveu Esther De Leau, e descobrimos que coincidiam em todos os pontos. Havia uma presença. Era vil, má, e cada vez mais ameaçadora e perigosa". O casal decidiu mudar-se assim que encontrassem outras acomodações, mesmo que isso significasse perder um ano de aluguel, por quebra de contrato. Por fim, a imobiliária concordou em cancelar o contrato,e em poucos dias eles acharam outra casa.
Na noite anterior a sua saída, De Leau estava empacotando livros em seu escritório no segundo andar, assobiando como se faz para manter a coragem em um cemitério à meia-noite, enquanto sua esposa esperava embaixo, temerosa. Então, o ruído dos passos do pastor cessaram abruptamente. "Horror, terror e perigo varreram a casa no mesmo instante,como uma onda", escreveu Esther. Em seguida ela ouviu "um ruído estrondoso de passos na escada, a porta foi literalmente aberta de um só golpe, e meu marido, branco e ofegante, atirou-se quarto adentro. 'Meu Deus",disse ele, sem fôlego, 'aquela coisa maldita acabou de entrar no escritório'."
O que quer que o De Leau estivessem enfrentando - o espírito de um indivíduo morto, um traço psíquico reverberante e alguma coisa que houvesse acontecido na casa, ou uma entidade de real substância que de algum modo se erguia de suas própria mentes, ou vinha de outra dimensão, ou ainda um pânico inspirado apenas por suas imaginações, talvez inflamadas pela tensão sofrida por Esther De Leau em virtude das repetidas ausências noturnas do marido - as explicações não faziam qualquer diferença para eles, naquele momento. No que lhes dizia respeito, estavam em uma casa assombrada, apavorados, e seu único recurso era fugir. De Leau esperou pela luz tranquilizadora da aurora antes de voltar para cima e continuar empacotando. Depois agarraram as crianças e saíram da casa - que haviam ocupado por apenas quatro meses - o mais rápido possível. Nos anos que se seguiram, onde quer que estivesse morando, sempre deixavam uma luz acesa à noite.